Os estudos sociais da confiança são extensos e multidisciplinares e partem, geralmente, de uma premissa que aporta a confiança nas relações sociais. O material empírico analisado neste artigo - trinta entrevistas em profundidade com consumidores de produtos orgânicos na cidade de Lisboa - dá conta de dois tipos de confiança ('desenraizada' e 'enraizada'), explorando um terceiro tipo: a confiança nos orgânicos através de 'testes' sensoriais cotidianos. O comportamento metabólico dos alimentos bem como a ausência ou presença de minhocas, lagartas e respectivos rastos (e.g. buracos deixados na fruta e verduras), aqui alusivamente apelidados de 'testes da minhoca', são relevantes bases de confiança. Levanta-se a hipótese de a confiança ser entendida como um fenômeno que emerge das relações entre entidades humanas e não humanas. Defende-se uma noção de confiança que é ontologicamente relacional e informada por perspectivas não-humanistas, e que se manifesta de formas variadas no cotidiano.
Social studies on trust are extensive and multidisciplinary and usually depart from a premise that casts trust within social relations. The empirical analysis in this article - thirty in-depth interviews with consumers of organics in Lisbon - entails two types of trust ('disembedded' and 'embedded'), and explores a third type: trust in organics through sensorial everyday life 'tests'. The metabolic behaviour of food and the absence or presence of earthworms, caterpillars and their tracks (eg. holes left in fruit and vegetables) - allusively called 'caterpillar tests' - are relevant bases of trust. The hypothesis that trust can be understood as a phenomenon that emerges from the relationship between human and non-human beings is examined. A notion of trust that is ontologically informed by relational and non-humanist perspectives is advanced, wherein trust is variously enacted in everyday life.
Los estudios sobre la confianza social son amplios, multidisciplinarios y parten, en general de una premisa que aporta confianza en las relaciones sociales. Los datos analizados en este artículo - treinta entrevistas en profundidad con los consumidores de productos orgánicos en Lisboa - atesta la presencia de dos tipos de confianza ('arraigada' y 'desarraigada'), y explora un tercer tipo: la confianza en los productos orgánicos a través de 'testes' sensoriales cotidianos. El comportamiento metabólico de los alimentos y la ausencia o presencia de las lombrices, orugas y sus pistas (por ejemplo, orificios dejados en frutas y verduras) - alusivamente llamados 'testes del gusano' - son bases importantes de la confianza. Planteamos entonces la hipótesis de que la confianza alimentar es entendida como un fenómeno que surge de la relación entre las entidades humanas y no humanas. Se defiende una noción de confianza que es ontológicamente relacional y informada por perspectivas no-humanistas, y que se manifiesta de diversas formas.